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Fim da escala 6×1: Proposta de redução da jornada e o debate sobre o futuro do trabalho no Brasil

Com a proposta de eliminação da escala de trabalho 6×1 e redução da jornada semanal para quatro dias, o Brasil se encontra em um ponto de inflexão sobre as condições e a qualidade de vida dos trabalhadores. Este artigo investiga os impactos e desafios de uma possível mudança estrutural no mercado de trabalho brasileiro, com perspectivas de trabalhadores, empresários e especialistas

Por Rubem Gama

A escala de trabalho conhecida como 6×1 é uma configuração de jornada em que o trabalhador atua por seis dias consecutivos, recebendo um dia de descanso no final do ciclo. Esse modelo é largamente adotado em setores como comércio, saúde, segurança e indústria, onde a necessidade de cobertura contínua exige uma presença constante dos trabalhadores. Apesar de sua ampla adoção, a escala 6×1 tem sido criticada por especialistas e movimentos sociais que argumentam que ela contribui para o desgaste físico e psicológico, com impacto direto na qualidade de vida dos trabalhadores.

Em maio de 2024, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para modificar essa dinâmica. A PEC visa reduzir a carga horária semanal de 44 para 36 horas, instituindo um sistema de quatro dias de trabalho por semana. Essa alteração permitiria o descanso em três dias, eliminando assim a necessidade da escala 6×1 para milhões de trabalhadores brasileiros.

Apoio popular

O movimento Vida Além do Trabalho (VAT), liderado por Rick Azevedo, surgiu com uma proposta clara: colocar a qualidade de vida dos trabalhadores em primeiro plano. A campanha ganhou forte adesão popular, com mais de um milhão de assinaturas em uma petição que solicita o fim da escala 6×1. Segundo Azevedo, a escala atual impacta negativamente a saúde mental e o bem-estar, e ele defende que uma jornada mais curta pode melhorar a produtividade dos trabalhadores.

Com uma estratégia de comunicação voltada para as redes sociais, o movimento Vida Além do Trabalho tem enfatizado que a redução da jornada semanal não é apenas uma questão de alívio físico, mas uma mudança estrutural capaz de beneficiar tanto a saúde dos trabalhadores quanto o desempenho das empresas. “Precisamos adaptar o trabalho à vida das pessoas, e não o contrário”, afirma Azevedo, destacando que a proposta alinha o Brasil a uma tendência global de reestruturação das jornadas.

O debate no setor empresarial: Impactos e preocupações

Enquanto o movimento popular ganha força, a proposta enfrenta resistência no setor empresarial. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) manifestou sua preocupação, argumentando que a mudança poderia elevar significativamente os custos operacionais. Setores que dependem de uma força de trabalho contínua, como alimentação, segurança e transporte, enfrentariam dificuldades logísticas e econômicas para implementar a jornada reduzida.

O presidente da Abrasel afirmou que, para manter o mesmo nível de serviço com uma jornada de quatro dias, as empresas precisariam contratar mais funcionários, o que elevaria os custos. “O consumidor acabaria arcando com esse custo, com um possível aumento de até 15% nos preços finais dos serviços”, explicou, indicando que setores sensíveis a custo poderiam sofrer com essa mudança.

Outros representantes empresariais acrescentam que a adaptação seria complexa em setores onde a cobertura contínua é essencial, como na saúde pública e segurança. Para esses setores, o redesenho das escalas seria um desafio logístico, demandando investimentos em treinamentos e aumento da mão de obra.

Os benefícios da redução da jornada para o trabalhador

Os defensores da proposta argumentam que o aumento do tempo de descanso terá benefícios diretos para a saúde e a produtividade. Em países que já adotaram jornadas mais curtas, como Islândia e Nova Zelândia, estudos mostraram melhorias no desempenho dos trabalhadores, redução do absenteísmo e maior comprometimento com a empresa. No Brasil, especialistas apontam que a redução da jornada poderia aliviar a carga de doenças ocupacionais e diminuir o estresse, problemas comuns entre os trabalhadores submetidos à escala 6×1.

A psicóloga laboral Marília Campos argumenta que a mudança proporcionaria um “alívio significativo” para a saúde mental dos trabalhadores. “Ter mais tempo para a família, para lazer e autocuidado reduz o estresse e aumenta a disposição para o trabalho. Esse é um ponto positivo não apenas para o trabalhador, mas também para o empregador, que pode contar com uma equipe mais saudável e engajada”, afirma.

Para muitos trabalhadores, a possibilidade de três dias de descanso semanal significaria um aumento de qualidade de vida, melhorando o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Essa expectativa é um dos principais motivadores do apoio popular à proposta, com muitas famílias aguardando um modelo de jornada que permita um tempo maior para atividades pessoais e descanso.

Cronologia dos fatos e próximos passos

  1. 1º de Maio de 2024: A deputada Erika Hilton apresenta a PEC para a redução da jornada semanal de 44 para 36 horas, propondo o fim da escala 6×1.
  2. Julho de 2024: O movimento Vida Além do Trabalho lança uma petição pública que rapidamente atinge a marca de um milhão de assinaturas, consolidando o apoio popular à proposta.
  3. Novembro de 2024: A Abrasel e outros representantes do setor empresarial expressam preocupação com o impacto econômico da PEC, sugerindo que a redução da jornada pode elevar os custos de operação e afetar o consumidor final.
  4. Novembro de 2024: A PEC aguarda apoio de 171 deputados para prosseguir em tramitação no Congresso Nacional.

Conclusão: Futuro da escala 6×1 e o que está em jogo

A proposta de fim da escala 6×1 e a possibilidade de uma jornada de quatro dias de trabalho semanal coloca o Brasil em um debate decisivo sobre as condições laborais e a qualidade de vida dos trabalhadores. Se por um lado os trabalhadores e movimentos sociais clamam por mudanças em busca de uma jornada mais humana e equilibrada, por outro, o setor empresarial destaca os custos e desafios operacionais dessa implementação.

Com o avanço da PEC no Congresso, o Brasil segue dividido, e a decisão final, qualquer que seja, trará um impacto profundo na organização do trabalho no país. A aprovação da PEC poderá transformar a estrutura laboral brasileira, promovendo um novo paradigma de produtividade e bem-estar. Contudo, para que isso se concretize, será necessário um equilíbrio cuidadoso entre os custos para as empresas e os benefícios para os trabalhadores.

Fontes: Época Negócios, Revista Fórum e O Tempo

Rubem Gama

*Servidor público municipal, acadêmico de Direito, jornalista (MTB nº 06480/BA), ativista social, criador da Agência Gama Comunicação e do portal de notícias rubemgama.com. E-mail: contato@rubemgama.com

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