Internacional

Execução de candidato no Equador é momento inédito, diz especialista

Villavicencio foi assassinado a tiros na saída de evento em Quito

Por Ana Cristina Campos/Agência Brasil – Edição: Valéria Aguiar – Imagem: Tânea Rego/Agência Brasil

O assassinato do candidato à Presidência do Equador, Fernando Villavicencio, ocorrido nessa quarta-feira (9), representa um momento inédito na história do país, avalia Maria Villarreal, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). O candidato foi assassinado a tiros na saída de um evento de campanha eleitoral em Quito.

Maria Villarreal, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

“O Equador, até 2017, era considerado o segundo país mais seguro da América Latina. Essa onda de violência que o país está experimentando é relativamente recente e muito grave. O assassinato do candidato ocorreu num contexto de crescente violência política. Só para se ter uma ideia, nesse último ano, quatro candidatos de governos locais foram assassinados e vários sofreram atentados. São candidatos de diversas tendências políticas”, disse a professora.

Após o assassinato, o presidente do Equador, o conservador Guillermo Lasso, decretou estado de emergência no país durante 60 dias. Foram ainda decretados três dias de luto nacional.

Crime organizado

Para a especialista, o crime organizado traz um desafio à democracia, à institucionalidade e ao Estado de Direito do país sul-americano.

“O Fernando Villavicencio era um jornalista investigativo que tinha denunciado vários casos de corrupção em governos anteriores e nos últimos anos ele tinha se tornado um líder político ativo. Foi deputado e virou candidato à presidência. Embora não fosse um dos favoritos, ele era uma figura importante na denúncia desses grupos do crime organizado transnacional. Já tinha recebido diversas ameaças e sofreu um atentado no ano passado. Esse atentado busca gerar instabilidade e caos no país por parte do crime organizado”.

A professora lembra que o Equador era tradicionalmente um país de trânsito para drogas e se tornou um importante centro de processamento e distribuição da droga na América Latina. “Nesse momento, o país só está atrás dos Estados Unidos e da Colômbia nas Américas”.

Maria Villarreal destacou que a manutenção do primeiro turno presidencial em 20 de agosto é uma importante sinalização para a sociedade equatoriana.

“O Equador precisa reagir, pois é um momento de extrema consternação e choque para a sociedade, ainda mais numa sociedade que não está acostumada historicamente com tais níveis de violência. É um momento de unidade e de necessidade de concertação nacional. A manutenção das eleições é uma mensagem positiva, uma mensagem em que se responde aos desafios que o crime organizado coloca. Vai ser muito importante que o novo governo conte com o apoio das demais forças políticas para conseguir implementar um processo de reconstrução nacional para fazer frente ao crime organizado, uma ameaça grave à democracia”, completou.

Rubem Gama

*Servidor público municipal, acadêmico de Direito, jornalista (MTB nº 06480/BA), ativista social, criador da Agência Gama Comunicação e do portal de notícias rubemgama.com. E-mail: contato@rubemgama.com

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