De Caravelas a Araçuaí: Governo autoriza construção da Ferrovia Bahia-Minas com investimentos de 12 bi
Por Rubem Gama
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aprovou a celebração de um Contrato de Adesão para a construção de uma ferrovia entre Caravelas (BA) e Araçuaí (MG). A linha, que tem 491 km de extensão, será construída seguindo o antigo leito da Bahia-Minas, que foi desativada em 1966.
Investimento multibilionário
A ferrovia será explorada pela empresa Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária SPE Ltda., pelo prazo de 98 anos, com investimentos estimados em R$ 12 bilhões. Além de permitir o transporte de cargas, a nova ferrovia também está sendo planejada para atender ao turismo no Vale do Jequitinhonha.
Os municípios de Araçuaí, Novo Cruzeiro, Teófilo Otoni, Carlos Chagas, Nanuque, Aimorés, Argolo e Posto da Mata, em Minas Gerais, Mucuri, Teixeira de Freitas e Caravelas, na Bahia, serão beneficiados com o investimento.
De acordo com Fernando Cabral, diretor da Multimodal Caravelas S.A, o contrato de adesão deverá ser assinado em até 30 dias, e a etapa de projetos e licenciamento ambiental deverá durar em torno de 2 anos.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, destacou a importância do investimento em novas ferrovias para o estado de Minas Gerais. Ele acredita que a ampliação do escoamento de riquezas diversas pode atrair novos investimentos e criar novas oportunidades de trabalho.
Planos para outras ferrovias
Além da ferrovia entre Caravelas e Araçuaí, há também planos para a construção da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFMES), com 243 quilômetros de extensão, entre Barra de São Francisco (ES) e Ipatinga (MG), e da Estrada de Ferro Planalto Central (EFPC), com 422 quilômetros de extensão, entre Unaí (MG) e Mara Rosa (GO).
Com a assinatura do protocolo de intenções entre o Governo de Minas e a Petrocity Ferrovias, a região vai ganhar um importante impulso para o seu desenvolvimento econômico. Com investimentos de R$ 16,8 bilhões, serão construídos três trechos de ferrovias, que vão ligar Goiás, o Distrito Federal e São Mateus (ES), com um total de 2.068 quilômetros de extensão.
O complexo ferroviário irá se tornar um dos mais importantes ramais logísticos do país para importação e exportação de produtos. Os três trechos vão atravessar 62 cidades, incluindo 40 cidades em Minas Gerais. O principal ramal, a Estrada de Ferro Juscelino Kubitschek (EFJK), vai ligar Brasília a São Mateus, passando por Montes Claros, com 1.310 quilômetros de extensão.
A construção dessa ferrovia permitirá o transporte de regiões não atendidas atualmente pelo modal ferroviário e com baixos indicadores de desenvolvimento, como as regiões dos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce. Além disso, o projeto também possibilitará o escoamento da produção de blocos de rochas ornamentais (granito), atualmente feito por carretas, diminuindo os custos de transporte e desafogando as estradas locais.
Outro aspecto importante a destacar é a proximidade da região com depósitos de lítio em Araçuaí, no Vale do lítio brasileiro, e do Vale das Cancelas, onde foi descoberto uma grande mina de minério de ferro nos municípios de Salinas, Josenópolis, Fruta de Leite, Padre Carvalho e Grão Mogol. A empresa responsável, cujo capital é chinês, pretende viabilizar a extração e transformação de minério de ferro de baixo teor em um produto de alta qualidade para o mercado, que será escoado para o município de Ilhéus, na Bahia.
Com a construção desse complexo ferroviário, estas regiões estarão mais integradas ao mercado nacional e internacional, além de ganhar mais dinamismo econômico e melhores condições de transporte e escoamento de sua produção.
Um pouco da história da Baiminas
A Baiminas, como moradores se referem à linha, foi inaugurada em 1881 e desativada em 1966. Seus 578 quilômetros ligaram o Jequitinhonha ao Atlântico, de Araçuaí, Minas Gerais a Ponta de Areia, Caravelas, Bahia, onde os trilhos desembocavam num porto que recebia navios da costa do Sudeste. O sertão se tornou parceiro comercial de grandes centros. A ferrovia se tornou um marco na economia.
O fim da linha Baiminas foi uma perda significativa para as comunidades que dependiam da ferrovia. Com a desativação, muitas cidades e povoados vieram a sofrer com a falta de empregos e a redução do aporte de recursos.
No entanto, a história da Baiminas é preservada por meio de sua antiga estação de Novo Cruzeiro, inaugurada em 1924 e preservada até hoje. A estação é um testemunho da importância da ferrovia para a região e de como ela teve um impacto significativo na economia e no desenvolvimento da região. A última viagem da Maria Fumaça, completará 56 anos em maio deste ano e será lembrada por muitos como um marco na história da ferrovia e uma lição sobre a preservação do patrimônio histórico.