Por que discurso de Bolsonaro na maçonaria pode irritar evangélicos?
A campanha do 2º turno das eleições presidenciais mal começou e um vídeo do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em uma loja maçônica viralizou na internet e vem causando polêmica. A ideia por trás do compartilhamento do vídeo – e de fotos de outros membros do governo com maçons – é a de dizer que Bolsonaro estaria participando de uma prática condenada pelos cristãos.
Mas, será mesmo? Fazer parte da maçonaria é pecado? Bem, para a Igreja Católica, desde o século 18, ser maçom não é compatível com ser católico. Em 1738, o papa Clemente 12º proibiu os católicos de serem membros de lojas maçônicas.
Em 1983, em documento escrito pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que depois se tornaria o Papa Bento 16, a Igreja Católica afirma que “os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão”. No entanto, a partir daí, os católicos maçons não mais são punidos com a excomunhão.
Já com os evangélicos, a história é um pouco diferente. Hoje, a maior parte das igrejas considera pecado ser maçom, mas isso não é uma unanimidade. Algumas denominações ainda estabelecem uma relação de respeito com a maçonaria, ainda que alertem para que seus membros não participem de qualquer organização que negue a fé cristã. É o caso, por exemplo, da Igreja Metodista.
Segundo Gerson Leite de Moraes, doutor em Ciências da Religião pela PUC-SP e professor do Mackenzie, protestantes e a maçonaria já foram muito próximos no Brasil.
“Quando os primeiros protestantes chegaram ao Brasil, eles foram acolhidos pelos maçons. Isso porque a maçonaria via um processo emancipador. Via como um grupo civilizatório que poderia colaborar com o processo de aprimoramento cultural, civilizatório de ordem e de progresso. Isso no século 19”, afirmou.
Isso significa que muitos protestantes e pastores eram membros de lojas maçônicas no Brasil. Aos poucos isso foi gerando um problema. Uma das causas do racha na Igreja Presbiteriana do Brasil que fez surgir a Igreja Presbiteriana Independente foi a maçonaria.
Segundo Moraes, ao longo do século 20, os grupos evangélicos brasileiros incorporaram as críticas católicas. Com isso, associou-se a maçonaria ao satanismo, por exemplo. Os símbolos maçônicos, como a imagem do bode, assim como os rituais e segredos, foram considerados ocultistas.
“Essa aversão à maçonaria pegou muito no meio pentecostal e fez com que outras igrejas endossassem essa crítica. Os evangélicos veem a maçonaria como parte de um sistema que quer comandar o mundo”, disse.
Hoje, na maioria das igrejas evangélicas, é pecado ser maçom. Ao fazer parte de uma organização tão secreta e cheia de ritos e símbolos, o maçom estaria impossibilitado de ser cristão. Como diz o pastor Lucinho Barreto, da Igreja Batista da Lagoinha, em um vídeo que também viralizou hoje na internet, ser evangélico e maçom “é como ser cruzeirense e atleticano ao mesmo tempo”.
Por isso, alguns pastores mais proeminentes no universo evangélico brasileiro, como os ouvidos em reportagem da Anna Virginia Ballousier, na Folha, consideram que essa ligação que está sendo feita entre Bolsonaro e a maçonaria pode ser nociva ao presidente. O professor Gerson Moraes concorda.
“O público evangélico que apoia Bolsonaro não sabia da ligação dele com a maçonaria e claro que isso cai como uma bomba. Isso pode ser um problema muito sério para a campanha”, opinou.