CONFLITO RÚSSIA - UCRÂNIA

Será que a Ucrânia vai vencer a guerra? “Isto não está sendo um passeio no parque para a Rússia”

Contrariando as previsões de Putin, que até já apelou ao exército ucraniano que traísse o próprio país, Kiev continua sem se render – e a Ucrânia diz que já matou 3.500 soldados russos. E há dois nomes que sobressaem: Volodymyr Zelensky e Vitali Klitschko. “Os ucranianos estão dispostos a morrer para terem o direito de escolher viver como nós, ocidentais”

Numa altura em que a invasão da Rússia à Ucrânia já leva mais de 72 horas, intensifica-se um conflito, que já fez centenas de mortos e provocou uma escalada de reações do estrangeiro. Se países como a Bielorrússia reiteram o seu apoio ao regime de Putin, a Ocidente acumulam-se as sanções à Rússia e fortalece-se o arsenal ucraniano. E Kiev permanece de pé, sem se vergar ao som das sirenes antimíssil que tanto ecoam. Mas isso significa que a Ucrânia está a vencendo esta guerra?

“Esta é uma pergunta muito difícil”, começa por admitir Helena Ferro Gouveia à CNN Portugal. Para a especialista em assuntos internacionais, militarmente a Rússia está em vantagem, uma vez que destruiu infraestruturas militares e tomou algumas das principais cidades ucranianas. No entanto, ao contrário que se poderia pensar, “Kiev não foi tomada com a facilidade que a Rússia previa”: “Isto não está sendo um passeio no parque”, afirma Helena Ferro Gouveia, frisando que “está havendo muita resistência por parte de militares e civis – homens e mulheres”. “Do ponto de vista militar, há uma grande desigualdade de forças. Apesar de muita resistência, é expectável que Kiev possa cair este domingo”, aponta Helena Ferro Gouveia.

Contudo, se olharmos para o prisma da comunicação, o cenário é diferente, aponta a especialista. Se quando o conflito começou havia a narrativa do homem forte que era Putin, esta foi entretanto substituída pelo herói Zelensky – o presidente ucraniano que se recusa a fugir. “Volodymyr Zelensky tem carisma e coragem. Conseguiu projetar-se como um verdadeiro líder, um herói. Está a merecer respeito tanto a nível nacional como internacional”, considera Heleno Ferro Gouveia.

Mas a especialista dá também destaque a outro homem: Vitali Klitschko, o presidente da câmara de Kiev, antigo campeão mundial de pesos pesados. “Foi uma das pessoas que mais têm pressionado a Alemanha, uma vez que viveu lá muitos anos. E a verdade é que o governo alemão cedeu.” Este sábado, a Alemanha anunciou que vai fornecer “armamento defensivo” à Ucrânia.

“A Ucrânia está conquistando os corações e o respeito de muita gente”

Henrique Burnay, especialista em assuntos europeus, salienta que o Ocidente ganhou um novo herói: o presidente Zelensky. “O que se nota é que as pessoas vibram quando parece que a Ucrânia está a resistir”, afirma em entrevista à CNN Portugal.

Mas há outras duas grandes vitórias que o especialista destaca: a da Ucrânia, com o que se está a passar na Rússia, onde manifestações antiguerra na ruas já resultaram em mais de 1.700 detenções em 53 cidades. “Não se vê ninguém a apelar para que a Ucrânia se renda. Pelo contrário, há russos com uma grande coragem a dizer ao regime de Vladimir Putin para parar a guerra. Nisto a Ucrânia está a ganhar”, reforça Henrique Burnay.

“E depois há uma vitória deles, ucranianos, e nossa”, a sociedade do Ocidente, elenca: “Os ucranianos estão a lutar porque queriam poder juntar-se à OTAN e à UE, que são os signos do Ocidente. Eles estão a lutar para ter direito a essa possibilidade e isto é uma vitória deles e nossa. O que dizem é que estão dispostos a morrer para terem o direito de escolher poder viver como nós. Nessa perspectiva, é uma vitalidade do ocidente.”

A Ucrânia enfrenta uma invasão militar lançada por Vladimir Putin desde quinta-feira, com bombardeamentos e combates em várias cidades, incluindo a capital ucraniana, Kiev. O presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa “desmilitarizar e desnazificar” o seu vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender. O Kremlin diz que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo dos seus “resultados” e “relevância”.

O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), da União Europeia (UE) e do Conselho de Segurança da ONU.

Rubem Gama

*Servidor público municipal, acadêmico de Direito, jornalista (MTB nº 06480/BA), ativista social, criador da Agência Gama Comunicação e do portal de notícias rubemgama.com. E-mail: contato@rubemgama.com

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